“(…) o conjunto de obras apresentadas evidencia-se assim, embora de uma forma muito díspar, no domínio da tradição das representações trágicas, cuja marcada reverberação sobre o espectador Edmund Burke designou por sublime[1].
O cenário de catástrofe que se anuncia em Apocalipse irradia essa mesma reverberação: mediante estas abstrações geradas sem referente mas reconhecíveis aos nossos olhos como paisagens de grande riqueza estética, ressalta um sentimento vertiginoso, um assistido terror que fascina, um medo salutar que se prende com a auto-preservação, com a nossa consciente fragilidade e condição mortal, que se afirma como uma elevação negativa.
Com Apocalipse, uma espécie de fenda abre-se sobre a superfície plana da paisagem e com ela uma vastidão de possibilidades que, se por um lado, percorrem a disposição natural da atenção para o detalhe, para o fragmento, para um estilhaço de memória, por outro, traçam o caminho inverso do fim dos tempos[2] para o princípio[3] (…)”