Este trabalho de vídeo-arte, como o próprio nome indica, situa-nos entre o céu e a terra, evocando Okeanos, o filho primogénito de Urano (Céu) e Gaia (Terra) na mitologia grega. Deus titã das águas correntes, a Okeanos cabia regular o nascer e o ocaso dos corpos celestes que se erguiam e entravam em suas águas.
Sobre um fundo cinzento, o voo cruzado de um pássaro situa-nos na atmosfera do panorama terrestre. Lentamente somos introduzidos a Okeanos que, num primeiro momento, se revela através da projecção de um corpo celeste pelo reflexo da sua mancha lumínica. Uma mancha volátil, multiplicada e convulsiva em crescente definição até ao desvelar de círculos dançantes que parecem desenhados com linhas de fogo, remetendo para células terminativas.
Por fim, Okeanos surge no seu esplendor, ostentando o seu carácter cosmogónico e exibindo a massa cintilante do grande rio cósmico primordial circundante do mundo, do qual por fim sai o corpo de um pássaro que voa para a atmosfera, criando um sugestivo efeito loop.
Um vídeo que constrói a sua narrativa poética numa dimensão fotográfica, assente no tom épico da imagem a preto e banco. O ritmo temporal em andamento de adágio tira proveito de tonalidades, brilhos e contrastes, factores que acentuam o movimento visual, por contraste aos pontuais momentos de monocromo que introduzem paragens temporais em analogia aos hiatos da crença criacionista.
Adelaide Ginga