Quimigrama é na sua definição uma técnica de criação artística que resulta de uma acção experimental, em que se utilizam substâncias químicas envolvidas no processo fotográfico sobre papel foto-sensível. Surge como uma prática decorrente da fotografia mas em que não se utiliza câmara, filme ou negativo. Esta designação é atribuída ao belga Pierre Cordier e data dos anos 50, ainda que tenha havido experiências anteriores semelhantes em outros países. Na década de 1920, fotógrafos experimentais como Laszlo Moholy-Nagy e Man Ray inventaram novas técnicas como a Fotogrametria e a Solarização; posteriormente, no contexto do pós-guerra na Europa, surgem a Fotografia Subjectiva (Otto Steinert) e a Fotografia Generativa (Gottfried Jäger).
É na senda de um processo que procede da fotografia mas que não pretende representar a realidade, antes uma imagem auto-referencial e não relacionada, que Henrique Vieira Ribeiro desenvolveu esta série de dez quimigramas em paralelo com a série Sal na Terra.
Ainda que autónomos, ambos os trabalhos são complementares, uma vez que Provas de Contacto surge por contraposição ao extremo registo natural da série anterior. Neste caso há uma acção interventiva: em vez de revelar uma imagem recolhida do real com câmara fotográfica, Henrique Vieira Ribeiro cria a própria imagem sem recurso à máquina, por meio da acção gestual que se aproxima da pintura e que consiste num método manual de aplicação de produtos como sal, reveladores, fixadores, etc. directamente sobre o papel fotográfico. A subversão do processo fotográfico cria, por via da acção do acaso, efeitos morfológicos que resultam a nível plástico naquilo que podemos designar como micro-paisagens abstractas.
Em contraste com as fotografias convencionais, que podem ser duplicadas de um negativo, os quimigramas são sempre únicos.
Adelaide Ginga