As fotografias que compõem a série Sal da Terra perfazem um conjunto de imagens que se enquadram na tipologia da fotografia de paisagem. Se tal é evidente num olhar inicial, quando reagimos ao desejo de identificar o real que está na base do trabalho artístico, o mistério instala-se.
Na óptica revelada pelo artista há um jogo dicotómico entre realismo e abstracção, pautado pela riqueza da diversidade de imagens, pelo apuro na definição e pela escala. A forma como o real é apresentado não nos permite reconhecer a origem geográfica, o continente ou país onde as imagens foram realizadas, se são de um único local ou de vários; outro desafio interessante aplica-se à escala, serão vistas aéreas ou detalhes? A certeza que o artista nos dá é que se trata de imagens naturais, em que o olhar técnico explora formas, cromatismos, texturas, sem recurso à manipulação ou à construção digital.
No domínio do natural percebemos que o encontro do mar com a terra está presente nestas fotografias e, atendendo ao título que remete para a presença do sal, deduzimos que a diversidade de imagens geomorfológicas, invulgares e únicas, a par da riqueza de uma multiplicidade de componentes orgânicos, resultam das distintas reacções químicas e alterações físicas provocadas pela acção do sal nos vários tipos de solo terrestre. Podiam ser paisagens “…no princípio” dos tempos.
“Sal da Terra” remete para o campo do espiritual. Em termos conceptuais, esta série de fotografias alude à expressão bíblica proferida por Jesus aos seus discípulos: “Vós sois o sal da terra” (Mateus 5:13). O sal personifica neste contexto um ser iluminado, dotado de sabedoria e idoneidade que confere sabor às palavras dos textos sagrados. Há um sentido metafórico relacionado com a ideia de luz, de sabedoria, de purificação e de estímulo.
Adelaide Ginga