O conceito de informe – criado por George Bataille e desenvolvido por Yve-Alain Bois e Rosalind Krauss no seu ensaio formless 1 – tem como base quatro linhas operativas: pulse, batimento que representa a separação entre espaço e tempo; base materialism, qualificação da matéria; entropy, enquanto elemento relacionado com a ordem estrutural dos sistemas, e horizontality, que segundo George Bataille funciona como um sistema de mapeamento espacial.
Apesar de se encontrarem pontos de contato entre estas quatro operações, e as imagens que compõem o projeto O voo e queda de Ícaro, é toda a reflexão patente no capítulo da horizontalidade que se afigura como linha condutora do seu questionamento e conceção – a associação da passagem do plano horizontal inerente ao objeto cama, para o plano vertical em que as imagens são expostas, está associada à dialética entre a morte e a vida, entre o terreno e o divino.
Assim, este projeto convida a um percurso – voo – que eclode da observação de camas quentes, das quais se acabou de levantar alguém, ocorrendo nesse instante a primeira inversão do eixo de observação, abandonando as representações o eixo horizontal boca/ânus característico do estado animal, para ascenderem ao eixo vertical, estatuto reservado ao Homem enquanto ser superior.
Percurso que remete ainda para uma dimensão cartográfica, através da qual ficcionamos o papel de Ícaro ao sobrevoar estes mapas, mapas que fazem sonhar, tal como as ilhas ou os territórios desconhecidos 2 e, tal como nos descreve a lenda mitológica, também nós não resistimos à tentação de voar demasiado perto do Sol, sendo forçados irremediavelmente a retornar ao ponto de vista iniciático – horizontal – à (pela) condição de meros mortais.
Voo#01 – #07, jato de tinta sobre canvas fine art, 100×200 cm. (cada)
A queda #01 – #03, jato de tinta sobre papel de algodão